Inovações impulsionam as obras e construção
- trapichedperrone
- 5 de jun.
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A tecnologia está revolucionando a forma como construímos. Inovações como inteligência artificial, vistorias remotas e plataformas digitais têm sido cada vez mais adotadas pelas construtoras para transformar a rotina das obras. O resultado? Mais agilidade nos processos, maior precisão nas entregas e uma eficiência que impacta diretamente na redução de custos.
Primeiro chat de IA do setor de construção civil
A BRZ Empreendimentos lançou o Kintú, um chat de inteligência artificial desenvolvido internamente para ampliar a capacidade analítica das equipes. Segundo o CTO Francis Navarro, a ferramenta reforça o foco da empresa em inovação e eficiência nos processos.
“Treinado com base em dados estratégicos da empresa, ele permite que qualquer colaborador envie documentos próprios, como contratos, apresentações e planilhas complexas com grandes volumes de dados, e receba respostas inteligentes, organizadas e contextualizadas em segundos. O KINTÚ eleva o nível das análises, amplia a autonomia dos times e fortalece a maturidade operacional. Na prática, cada colaborador passa a contar com um assistente pessoal, com conhecimento ilimitado e senioridade elevada, capaz de trazer mais segurança, agilidade e precisão ao dia a dia”, informa o CTO.
Segundo Navarro, desde a implementação do KINTÚ, a BRZ Empreendimentos tem observado ganhos expressivos em agilidade, precisão e produtividade. “As áreas que mais se beneficiaram até agora foram Engenharia, Jurídico, Financeiro, Gente e Gestão e Comercial, especialmente em rotinas que exigem análise de documentos extensos, interpretação de dados e apoio a decisões operacionais. Além disso, temos percebido redução no retrabalho, maior autonomia dos times e aceleração nos ciclos de decisão. O KINTÚ tem se consolidado como um reforço estratégico no dia a dia, transformando tarefas operacionais em decisões mais rápidas e inteligentes”, pontua.
Navarro explica que a decisão de desenvolver uma IA própria veio da necessidade de equilíbrio entre custo e personalização. Segundo ele, licenciar uma solução genérica, como o ChatGPT, para mais de mil colaboradores custaria mais de R$ 1,5 milhão por ano, além de apresentar limitações no uso individual e baixa flexibilidade para adaptar a tecnologia às demandas específicas da empresa.
O primeiro grande desafio na criação de uma IA própria é de ordem estratégica: vencer a resistência natural à mudança em um ambiente onde, para muitos, a inteligência artificial ainda parece algo distante e abstrato. Já no campo técnico, os obstáculos são ainda mais complexos, exigindo conhecimento especializado, infraestrutura robusta e integração com sistemas já existentes.
“É necessário escolher entre diferentes motores de IA como OpenAI, Anthropic ou Google, avaliando desempenho, custo por token, velocidade e profundidade contextual. No caso do KINTÚ, foi fundamental implementar uma camada de autenticação exclusiva para colaboradores, garantindo que apenas usuários autorizados possam acessar o conteúdo e interagir com dados estratégicos da empresa”, destaca Navarro.
Gêmeos digitais em diferentes tipos de obras
Os gêmeos digitais são réplicas virtuais dinâmicas que permitem simular, emular ou espelhar dados coletados em tempo real de ativos físicos, como edifícios, rodovias, fábricas etc. “O modelo BIM pode ser utilizado como base para a criação do gêmeo digital, no qual dados dinâmicos provenientes de sensores podem ser vinculados para permitir a visualização em tempo real”, expõe Natália Nakamura Barros, arquiteta no Tech Lab – Hub de BIM e Inovação – da Sondotécnica.
Algumas referências indicam que o primeiro estágio de maturidade do gêmeo digital é o chamado ativo virtual, que pode ser representado por um modelo BIM. À medida que a maturidade evolui, entram em cena funcionalidades mais avançadas, como a integração com dados de sensores em tempo real, análises preditivas e a gestão de ativos conectados, ampliando significativamente o valor estratégico da tecnologia.
“Deste modo, os gêmeos digitais consistem em ativos virtuais que refletem o que está acontecendo no ativo físico em tempo real, permitindo análises preditivas e decisões baseadas em dados atualizados”, destaca Natália.
Segundo a arquiteta, o gêmeo digital pode ser aplicado de forma integrada em todas as fases do ciclo de vida de um empreendimento:
Concepção: nesta etapa, os dados agregados ao ativo virtual, como o modelo BIM auxiliam na simulação de cenários e na definição de requisitos operacionais, otimizando decisões desde o projeto inicial.
Construção: com sensores instalados no canteiro de obras, é possível monitorar em tempo real o andamento da obra, a qualidade das execuções e as condições de segurança, sincronizando essas informações com o modelo virtual.
Operação e manutenção: já na fase de uso do empreendimento, o gêmeo digital torna-se uma ferramenta estratégica. Ele capta dados dinâmicos sobre temperatura, consumo de energia e desempenho de sistemas, permitindo manutenção preditiva, maior eficiência energética e uma gestão mais inteligente e proativa dos ativos.
Apesar de hoje ser mais comum o uso de gêmeos digitais em grandes empreendimentos, a viabilidade em empreendimentos de médio e pequeno porte está crescendo, segundo Natália. “Soluções baseadas em nuvem podem reduzir custos com infraestrutura física, enquanto módulos específicos, como os dedicados à manutenção preditiva de ativos permitem uma adoção gradual”, aponta.
Atualmente, o setor industrial lidera a adoção de gêmeos digitais, impulsionado pela complexidade dos ativos e pela necessidade de manutenção preditiva. Fábricas e plantas industriais, por exemplo, exigem monitoramento contínuo para evitar falhas e paradas não programadas, que geram altos custos operacionais.
O setor de infraestrutura, como rodovias, redes de saneamento e sistemas de transporte, também vem avançando nesse cenário, já que esses ativos demandam uma gestão eficiente e contínua ao longo de décadas de operação.
Já o setor de edificações tem se destacado principalmente em projetos de edifícios inteligentes e iniciativas voltadas a certificações sustentáveis. A busca por maior eficiência energética, conforto dos usuários e redução do impacto ambiental tem acelerado o uso de gêmeos digitais nesse segmento.
A evolução desses setores funciona como um verdadeiro laboratório de inovação, gerando aprendizados e boas práticas que, em breve, poderão ser adaptadas e aplicadas a outras áreas da construção civil.
Vistoria remota na pós-entrega
Setores da construção civil têm adotado vistorias remotas no pós-obra, utilizando plataformas digitais. Na Octágora, por exemplo, após a entrega das chaves, o cliente pode relatar problemas por vídeo, agilizando o atendimento e melhorando a experiência do usuário. “A vistoria remota permite registrar os apontamentos do cliente em um laudo padronizado, sem necessidade de visita presencial”, explica Daniel Cussi, cofundador e CTO da empresa.
Além disso, o uso de formulários digitais permite iniciar o atendimento de forma assíncrona, com o envio de fotos e descrições que passam por uma análise técnica prévia. Quando necessário, uma videochamada é agendada para aprofundar o diagnóstico. Essa abordagem não só reduz custos operacionais, como também agiliza o processo e oferece mais comodidade para todas as partes envolvidas.
De acordo com Cussi, a vistoria remota é altamente eficaz quando o suporte visual é suficiente para identificar o problema. Já em casos mais complexos, ela atua como uma triagem inteligente, permitindo que a equipe vá ao local com um diagnóstico preliminar, muitas vezes, evitando retrabalhos e visitas adicionais.
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