Além da sucata: caminhos para descarbonizar a siderurgia
- trapichedperrone
- 4 de set.
- 2 min de leitura

A reciclagem de sucata é uma das alavancas mais efetivas para reduzir as emissões da siderurgia. Em geral, isso ocorre via fornos elétricos a arco (EAF), cuja pegada de carbono é 60% a 80% menor que a da rota tradicional de alto-forno–BOF. Ainda assim, como mostra o estudo The role of scrap in steel decarbonisation, há limites físicos, técnicos e comerciais, o que exige contemplar outras rotas na descarbonização do setor.
À primeira vista, os números impressionam: 80–85% da sucata gerada no mundo é reaproveitada em processos industriais. Ainda assim, apenas 30% do aço é produzido com sucata via forno elétrico a arco (EAF). O gargalo é a qualidade: boa parte da sucata vem contaminada por cobre e fósforo, o que limita seu uso em aços de alto desempenho e maior valor, como planos, inoxidáveis e de alta resistência, demandados por automotivo e linha branca. Resultado: a rota de baixo carbono avança sobretudo em segmentos menos críticos, como a construção civil.
Há também o entrave da baixa oferta de sucata obsoleta: muito do aço permanece em uso por décadas em edifícios e infraestrutura. Além disso, parte da sucata é inacessível do ponto de vista técnico ou pouco viável economicamente para reciclagem, seja pela dispersão geográfica, pela contaminação por elementos residuais ou pelos altos custos logísticos.
No Brasil, os desafios se aprofundam. Boa parte da cadeia da sucata ainda opera com informalidade, baixa digitalização e falta de rastreabilidade. A tributação em diversos estados encarece o material e, em alguns casos, o torna mais caro que minério de ferro ou ferro-gusa, uma distorção que desestimula a rota do forno elétrico a arco (EAF). Sem triagem avançada e controle de qualidade, a sucata nacional não atende às especificações de um setor que precisa descarbonizar sem perder competitividade, ficando restrita a operações de baixo valor agregado.
No panorama global, há o risco de superestimar a sucata como solução única: mesmo que a produção via sucata quase triplique até 2050, ela no máximo dividirá o protagonismo com a produção a partir de minério de ferro (conforme o gráfico).
Comentários