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Concreto com captura de CO₂: inovação reaproveita resíduos da construção e reduz emissões

  • trapichedperrone
  • 4 de set.
  • 2 min de leitura
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Transformar resíduos de concreto em materiais de alto desempenho, com captura e armazenamento de carbono, já não é apenas teoria. Pesquisa do engenheiro civil e doutorando da UFRGS Victor Saldanha Cassel avaliou o uso de CO₂ no tratamento de agregados graúdos reciclados de concreto, aplicando a tecnologia CCUS (Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono).


“O objetivo foi avaliar como o tratamento com CO₂ impacta nas propriedades físicas e microestruturais do material, além de medir o potencial de fixação do gás na matriz cimentícia”, explica Cassel. Em ambiente controlado, com alta concentração de CO₂, as partículas recicladas foram expostas por 24 horas ao processo de carbonatação acelerada.

 

Resultados: mais qualidade e menos emissões


Os ensaios indicaram que os agregados reciclados de concreto podem fixar entre 9 e 13 kg de CO₂ por tonelada, com ganhos de massa específica e microdureza, além de menor absorção de água e redução da porosidade.


O pesquisador afirma que, quanto maior a quantidade de CO₂ fixado, melhor foi a qualidade do agregado. “Observamos aumento da densidade, maior resistência e menor absorção de água, o que abre espaço para um uso mais amplo desse material na construção”, revela.


No cenário nacional, a pesquisa estima que, com aumento do índice de reciclagem e carbonatação completa, seria possível capturar em média 39,5 mil toneladas de CO₂ por ano. “Essa é uma oportunidade de alinhar o setor da construção às metas globais de neutralização de carbono, ao mesmo tempo em que se aproveitam resíduos que hoje têm destinação limitada”, destaca Cassel.


Além de valorizar os resíduos da construção e demolição (RCD), a estratégia abre caminho para a geração de créditos de carbono, agregando viabilidade econômica à prática.


Benefícios para a construção e para o planeta


A tecnologia oferece uma dupla vantagem: amplia o uso de agregados reciclados, reduzindo a pressão sobre recursos naturais e contribui para as metas de neutralidade de emissões até 2050. “É um caminho para viabilizar tecnicamente o uso em maior escala desses agregados e ainda contribuir para reduzir as emissões de CO₂ da indústria da construção”, resume o engenheiro.

 

Para sair do laboratório e ganhar escala industrial, o processo precisará de ajustes: definir a etapa ótima de aplicação do tratamento e otimizar as condições ambientais, de modo a maximizar a fixação de CO₂ em menos tempo. “O desafio agora é entender como aplicar essa tecnologia em larga escala sem gerar impactos ambientais adicionais e com custo viável para as empresas”, observa. Além disso, estudos futuros deverão avaliar o desempenho mecânico e a durabilidade de concretos produzidos com esses agregados tratados, fortalecendo a aplicação em obras reais.

 

Economia circular na prática


Segundo a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON), o Brasil gera cerca de 107 milhões de toneladas de RCD por ano, mas apenas 17% é reciclado.


O uso de CO₂ no tratamento de agregados reciclados surge como caminho concreto para impulsionar a economia circular na construção, em alinhamento aos ODS de consumo responsável e ação climática.A pesquisa mostra que, quando ciência e engenharia se unem, o concreto deixa de ser apenas material estrutural e passa a atuar como aliado no combate às mudanças climáticas.

 

 
 
 
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